sábado, 24 de dezembro de 2016

No caminho do horizonte


Entre escândalos protagonizados pela trupe de dirigentes da CBF- Confederação Brasileira de Futebol, onde muitos nem podem viajar para não serem presos, 2016, pelo menos nas quatro linhas, parece terminar com a sensação de que as seleções “Canarinhas” agora estão no caminho certo.

Se na masculina a contratação do treinador Tite iniciou a recuperação do bom futebol brasileiro, o suficiente para já está com o "passaporte praticamente carimbado" para a Copa do Mundo na Rússia, a feminina também começa a apontar para o horizonte ao escolher pela primeira vez uma mulher para ser treinadora. A ex-jogadora de futebol, Emily Lima (foto) foi à escolhida e se mostra conhecedora do esporte e credenciada a comandar o time feminino. Como jogadora Emily Lima atuou na Seleção Brasileira Sub-17, em 1997 e na categoria principal como volante vestiu a camisa da Seleção Portuguesa de 2007 a 2009. Além de ter atuado em clubes brasileiros, espanhóis e Italianos. Como treinadora, também realizou trabalhos importantes no enfrentamento, na luta e resistência para quem trabalha com futebol feminino, principalmente no Brasil. Este ano, Emily, comandando a equipe de São José dos Campos, tradicional no futebol feminino, foi vice-campeã da Copa do Brasil 2016, em confronto com a equipe do Audax na final.

Em seu primeiro desafio como treinadora da Seleção Brasileira, na Copa Caixa Internacional de Futebol Feminino, realizada pela primeira vez em Manaus, Emily, com pouco tempo de trabalho, já mostrou uma equipe mais organizada dentro de campo e terminou a competição sendo campeã de forma invicta e com boas atuações, vencendo a Itália na final por 5x3. Durante o torneio as mulheres brasileiras venceram ainda a Rússia e Costa Rica.

Emily Lima no comando da seleção fortalece o movimento de luta e libertação pelo futebol feminino. O Futebol feminino é resistência. Na torcida para que as mulheres do Brasil conquistem cada vez mais mudanças e espaços.

Em 2017, pelo menos dentro de campo, as amarelinhas masculina e feminina estão no caminho do horizonte.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fernando Diniz e o Oeste. O que não deu certo?


Acompanho o trabalho do Fernando Diniz desde o início de sua carreira no Votoraty, nos tempos de Rede Vida (o canal da família. Inclusive, saudades), alguns anos mais, outros anos menos. Mas, mesmo antes dele “despontar” como foi em 2016 já acreditava no seu trabalho e potencial. A qualidade e competitividade que implatava em seus times, mesmo com elencos fracos, era um dos motivos disso. Era a prova de “dá pra fazer algo bom com pouco”. Continuo acreditando, porém, com ressalvas.

Sobre o trabalho dele no Audax indico esse texto. O meu foco aqui é o criticado trabalho no Oeste.


1 – Expectativa – Assim como tantos, criei muita expectativa sobre a participação do Oeste/Audax na Série B. Sinceramente, não esperava o acesso, pois, apesar da parceria com o Audax, os principais pilares do vice-campeão paulista não foram disputar a série B. Ytalo, Sidão, Yuri, Bruno Paulo, Tchê-Tchê e principalmente Camacho. As reposições praticamente não existiram e os que ficaram do Audax, com exceção do goleiro Felipe Alves e do bom zagueiro André Castro, foram jogadores coadjuvantes e irregulares, Bruno Silva, Mike, Rodolfo e Velicka.

No entanto mesmo não sendo time para acesso a falta de qualidade não é motivo para o quase rebaixamento. Outras equipes igualmente modestas fizeram um campeonato bem melhor, como a Luverdense, Vila Nova e até mesmo Brasil de Pelotas. E além disso, foi o próprio Diniz que ajudou a montar o elenco, ele acreditava naqueles jogadores, ou seja, é obrigação dele saber quais deles poderiam funcionar no seu esquema. Esse tipo de erro não seria perdoado na montagem de um time maior e com cobrança.

2 – O esquema de jogo – Esse talvez seja o principal ponto positivo e defesa do Diniz. Muito se falava sobre ele “não conseguir aplicar seu esquema em séries mais competitivas” ou “precisar de tempo para aplicá-lo”. Ficou provado, mais uma vez, que não. O Oeste tinha muito do Audax. Muito mesmo (ver dados abaixo). Ele conseguiu aplicar seu esquema de troca de posições, domínio de jogo, posse de bola, finalização, triangulação, etc. Porém, faltou o principal. Peças. E dentro delas o “x” da questão é a ausência do meia Camacho (falarei mais a seguir).

Muito se falou sobre “o esquema de jogo do Audax demorou a ser construindo”, na verdade, não. Ele é construindo rápido, o time, nem tanto. A equipe, elenco, jogadores, chegou ao auge (ou próximo) essa temporada. Se o Diniz tem um grande ponto a melhorar talvez seja o de indicar jogadores que funcionem com seu tipo de tática. E principal deles é “um Camacho”.


Ver estatísticas (fonte - footstats): 









Sobre as estatísticas:

2.1 - O índice de passes é muito alto, porém com o nível de erros baixo. Isso é treinado e é o principal fundamento do Audax. Tá lá.

2.2 - O time é o 5° em finalizações certas, 2° em finalizações erradas e o 1° em assistências para finalização. Na média (juntando os 3) é o 3° time que mais finaliza, perdendo apenas para Náutico e Bahia, melhores ataques da série B. No entanto, o Oeste terminou com o 16° pior ataque da competição. Se o time cria como criou e não consegue o gol isso passa mais pela falta de qualidade técnica individual do que treino. Sim, você pode treinar finalização e melhorar, porém, não é durante uma competição que um Mike se tornará Romário. Sobre isso indico também esse texto (clique aqui).

2.3 - O baixo número de faltas e rebatidas também mostram que o time mantém o fundamento de "jogo bonito", corrido e menos picotado.


3 – Camacho – Por mais que Tchê-Tchê e o goleiro Sidão talvez sejam os principais destaques na série A vindos do Audax. Camacho, que aos poucos vai conseguindo um certo espaço no Corinthians, é a maior ausência no esquema do Oeste. Ele é o diferencial de um time montado pelo Diniz. A partir do momento em que sua equipe é centrada na troca de posições, triangulação e posse de bola, um jogador que infiltre, tenha a capacidade de prender a bola e principalmente de recomposição, se torna necessário. O Oeste não tinha. Foi muito comum na série B a equipe tocar, tocar e tocar na frente da área sem qualquer tipo de infiltração, sem um jogador para “abrir” a defesa adversária. No fim, o toque de bola se resumia a uma jogada individual (aí um jogador como Bruno Paulo faz falta) ou uma finalização de fora da área. Diniz tentou Carmona, Rodolfo, Léo Artur como o “Camacho do Oeste”, mas, nenhum, com a mesma característica ou qualidade.

4 – Alguns dados – O Oeste ficou 16 jogos sem vencer e sim, isso é preocupante. Todavia em praticamente todos (salve raras exceções) a equipe dominou a partida com mais posse de bola, finalizações e menos faltas. E vale lembrar que apesar de 16 jogos sem vencer, o Oeste ficou 7 sem perder. Sim, empatou todos. E não, isso não é comum. Um time que empata 17 vezes no campeonato não é algo normal, ainda mais levando em consideração que é uma equipe ofensiva que sempre busca à vitória. Equipes mais burocráticas como Paysandu e Luverdense, que empataram 16 vezes, de certa forma até se justifica (as equipes jogam baseadas em suas defesas), mas como explicar que o terceiro time que mais finaliza ter um dos piores ataques? O que mais busca à vitória ter mais empates? Provavelmente a falta de qualidade técnica (que advém da montagem do elenco).

Os “deuses do futebol” seriam bem cruéis com um rebaixamento (o primeiro da carreira) para o Diniz. Não seria justo. Porém, e muito por culpa sua, a passagem no Oeste fez com que ele desse alguns passos atrás na carreira. Se hoje ele poderia ser um nome interessante para treinar times na série A. Para mim, no momento, não vale o risco. Porém, acho que seria necessário para sua carreira assumir um projeto maior, que vá além do Audax e da “mesmice” (pouca cobrança), uma equipe média de série B que entre com a “obrigação” de ganhar, pelo menos, um estadual. Um Paysandu, Goiás ou até mesmo Ceará seriam equipes ideais, ao meu ver, para sabermos até onde o treinador poderá chegar em sua carreira. Porém, provavelmente ele ficará no Audax. Em um projeto que o limita. Paciência.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

No futebol feminino as lutas e conquistas são diárias



Parabéns ao futebol feminino brasileiro. Ficaram em quarto lugar nas olimpíadas do Rio de Janeiro. E é sim uma grande conquista. No Brasil, a luta e a busca por conquistas no futebol feminino são diárias. E ainda falta muito, principalmente em um país em que o direito de praticar a modalidade foi negado por décadas às mulheres. Aqui, o futebol feminino só deixou de ser proibido por lei em 1979. Mas a falta de incentivo e preconceito ainda são desafios a serem enfrentados pelas jogadoras de futebol até hoje. Por isso é muito importante destacar esta conquista. O Futebol feminino só entrou como modalidade olímpica em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta (EUA), e de lá pra cá nossa seleção já ganhou duas medalhas de prata. Sempre com boas campanhas, apesar das dificuldades. Na luta diária do futebol feminino é muito importante a visibilidade que se ganha com uma disputa olímpica, que é quando torcedoras e torcedores, brasileiras e brasileiros, se empolgam com o grande desempenho da seleção. Mas, para você ter uma ideia, semana que vem começa a Copa do Brasil de futebol feminino. Empolgado, Depois desta campanha olímpica da seleção e o fato de ultimamente está acompanhando as transmissões das competições de futebol feminino na TV Brasil, emissora pública, fui conferir a tabela da competição. Vi que na quarta-feira (24) vai ter a estreia do time feminino do Clube Náutico Capibaribe contra o Botafogo da Paraíba, no Estádio dos Aflitos. Já tava me organizando para ir prestigiar as jogadoras do meu clube. Então, vi que o horário da partida é às 15h. Jogo de tarde em pleno meio da semana. Você viu falar alguma coisa sobre esta Copa mesmo depois dessa campanha da seleção? Você viu a grande mídia divulgar essa competição aproveitando a empolgação da torcida com a modalidade esportiva praticada por mulheres? Pois é, para você ver o descaso com o futebol feminino brasileiro. 

Ao final das olimpíadas, Marta, eleita 5 vezes a melhor jogadora do mundo e a maior artilheira de todos os tempos com a camisa brasileira, incluído mulheres e homens, pediu, emocionada, ao povo brasileiro para não deixar de apoiar o futebol brasileiro.

Que este apoio cresça. Que o movimento de luta e libertação pelo futebol feminino se fortaleça cada vez mais, ganhe cada vez mais adeptas e adeptos, e conquistem seus direitos mesmo diante de todo esse contexto excludente. Pois, como disse Paulo Freire, pedagogo das oprimidas e dos oprimidos, “Nossa luta de hoje não significa que necessariamente conquistaremos mudanças, mas sem que haja luta, hoje, talvez as gerações futuras tenham de lutar muito mais. A história não termina em nós: ela segue adiante.” Parabéns para todas as jogadoras guerreiras do Brasil e que, unidas, conquistem cada vez mais mudanças. Futebol feminino resiste!


* Com açúcar e com afeto: Esse texto do site Trivela fala um pouco destas lutas e conquistas diárias que o futebol feminino tem que enfrentar há décadas: http://trivela.uol.com.br/o-futebol-feminino-ja-foi-proibido-ate-pela-lei-brasileira-mas-segue-na-luta-pela-emancipacao/