Acompanho o trabalho
do Fernando Diniz desde o início de sua carreira no Votoraty, nos
tempos de Rede Vida (o canal da família. Inclusive, saudades),
alguns anos mais, outros anos menos. Mas, mesmo antes dele
“despontar” como foi em 2016 já acreditava no seu trabalho e
potencial. A qualidade e competitividade que implatava em seus
times, mesmo com elencos fracos, era um dos motivos disso. Era a
prova de “dá pra fazer algo bom com pouco”. Continuo
acreditando, porém, com ressalvas.
Sobre o trabalho
dele no Audax indico esse texto. O meu foco aqui é o criticado trabalho no
Oeste.
1 – Expectativa
– Assim como tantos, criei muita expectativa sobre a
participação do Oeste/Audax na Série B. Sinceramente, não esperava o
acesso, pois, apesar da parceria com o Audax, os principais pilares
do vice-campeão paulista não foram disputar a série B. Ytalo,
Sidão, Yuri, Bruno Paulo, Tchê-Tchê e principalmente Camacho. As
reposições praticamente não existiram e os que ficaram do Audax,
com exceção do goleiro Felipe Alves e do bom zagueiro André
Castro, foram jogadores coadjuvantes e irregulares, Bruno Silva,
Mike, Rodolfo e Velicka.
No entanto mesmo não
sendo time para acesso a falta de qualidade não é motivo
para o quase rebaixamento. Outras equipes igualmente modestas fizeram
um campeonato bem melhor, como a Luverdense, Vila Nova e até mesmo
Brasil de Pelotas. E além disso, foi o próprio Diniz que ajudou a
montar o elenco, ele acreditava naqueles jogadores, ou seja, é
obrigação dele saber quais deles poderiam funcionar no seu
esquema. Esse tipo de erro não seria perdoado na montagem de um time
maior e com cobrança.
2 – O esquema de jogo –
Esse talvez seja o principal ponto positivo e defesa do Diniz. Muito
se falava sobre ele “não conseguir aplicar seu esquema em séries
mais competitivas” ou “precisar de tempo para aplicá-lo”.
Ficou provado, mais uma vez, que não. O Oeste tinha muito do Audax.
Muito mesmo (ver dados abaixo). Ele conseguiu aplicar seu esquema de
troca de posições, domínio de jogo, posse de bola, finalização,
triangulação, etc. Porém, faltou o principal. Peças. E dentro
delas o “x” da questão é a ausência do meia Camacho (falarei
mais a seguir).
Muito se falou sobre
“o esquema de jogo do Audax demorou a ser construindo”, na
verdade, não. Ele é construindo rápido, o time, nem tanto. A equipe, elenco, jogadores, chegou ao auge (ou próximo) essa temporada.
Se o Diniz tem um grande ponto a melhorar talvez seja o de indicar
jogadores que funcionem com seu tipo de tática. E principal deles é
“um Camacho”.
Ver estatísticas (fonte - footstats):
Sobre as estatísticas:
2.1 - O índice de passes é muito alto, porém com o nível de erros baixo. Isso é treinado e é o principal fundamento do Audax. Tá lá.
2.2 - O time é o 5° em finalizações certas, 2° em finalizações erradas e o 1° em assistências para finalização. Na média (juntando os 3) é o 3° time que mais finaliza, perdendo apenas para Náutico e Bahia, melhores ataques da série B. No entanto, o Oeste terminou com o 16° pior ataque da competição. Se o time cria como criou e não consegue o gol isso passa mais pela falta de qualidade técnica individual do que treino. Sim, você pode treinar finalização e melhorar, porém, não é durante uma competição que um Mike se tornará Romário. Sobre isso indico também esse texto (clique aqui).
2.3 - O baixo número de faltas e rebatidas também mostram que o time mantém o fundamento de "jogo bonito", corrido e menos picotado.
3 – Camacho –
Por mais que Tchê-Tchê e o goleiro Sidão talvez sejam os
principais destaques na série A vindos do Audax. Camacho, que aos
poucos vai conseguindo um certo espaço no Corinthians, é a maior ausência no esquema do Oeste. Ele é o
diferencial de um time montado pelo Diniz. A partir do momento em que
sua equipe é centrada na troca de posições, triangulação e posse
de bola, um jogador que infiltre, tenha a capacidade de prender a
bola e principalmente de recomposição, se torna necessário. O Oeste
não tinha. Foi muito comum na série B a equipe tocar, tocar e tocar na frente da área sem qualquer tipo de infiltração, sem um
jogador para “abrir” a defesa adversária. No fim, o toque de
bola se resumia a uma jogada individual (aí um jogador como Bruno
Paulo faz falta) ou uma finalização de fora da área. Diniz tentou
Carmona, Rodolfo, Léo Artur como o “Camacho do Oeste”, mas, nenhum, com
a mesma característica ou qualidade.
4 – Alguns
dados – O Oeste ficou 16
jogos sem vencer e sim, isso é preocupante. Todavia em
praticamente todos (salve raras exceções) a equipe dominou a partida com mais posse de bola, finalizações e menos faltas. E vale
lembrar que apesar de 16 jogos sem vencer, o Oeste ficou 7 sem
perder. Sim, empatou todos. E não, isso não é comum. Um time que
empata 17 vezes no campeonato não é algo normal, ainda mais levando
em consideração que é uma equipe ofensiva que sempre busca à vitória. Equipes mais burocráticas como Paysandu e Luverdense, que
empataram 16 vezes, de certa forma até se justifica (as
equipes jogam baseadas em suas defesas), mas como explicar que o terceiro time que mais finaliza ter um dos piores ataques? O que mais busca à vitória
ter mais empates? Provavelmente a falta de qualidade técnica (que
advém da montagem do elenco).
Os “deuses do futebol” seriam bem cruéis com um rebaixamento (o
primeiro da carreira) para o Diniz. Não seria justo. Porém, e muito
por culpa sua, a passagem no Oeste fez com que ele desse alguns
passos atrás na carreira. Se hoje ele poderia ser um nome
interessante para treinar times na série A. Para mim, no momento,
não vale o risco. Porém, acho que seria necessário para sua
carreira assumir um projeto maior, que vá além do Audax e da
“mesmice” (pouca cobrança), uma equipe média de série B que
entre com a “obrigação” de ganhar, pelo menos, um estadual. Um
Paysandu, Goiás ou até mesmo Ceará seriam equipes ideais, ao meu
ver, para sabermos até onde o treinador poderá chegar em sua
carreira. Porém, provavelmente ele ficará no Audax. Em um projeto que o limita. Paciência.