quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Vale a pena punir o Garcilaso por culpa da estupidez humana?



E mais uma vez o “real mundo paralelo” do futebol bate nossa porta. Ontem, foi um caso de racismo contra o jogador Tinga do Cruzeiro, no Peru (ver). Vi vários comentários falando que o time peruano deveria ter uma pena dura (talvez até a exclusão do torneio) para servir de exemplo. 

Sinceramente, não tenho uma opinião completamente formada sobre a questão de uma possível punição até por isso uso a interrogação no título. Mas, não vejo uma “punição dura” como algo muito efetivo sobre o problema. Vi que no próprio Garcilaso há negros e também não creio que a maioria do elenco seja racista, então, punir quem “não tem nada a ver” com o caso pela idiotice de terceiros seria justo? 

Porém, esse é o menor dos problemas. Vamos imaginar que a Conmebol resolve punir de forma dura o time peruano, excluindo do torneio, por exemplo. Os idiotas da arquibancada deixariam de ser racistas por isso? Ou apenas iremos mudá-los de local. Tipo: “Dentro do campo não posso ser racista. Mas, da porta pra fora, tudo bem”. Daria para considerar isso uma vitória? Ou apenas iríamos colocar um problema para debaixo do tapete. Outro exemplo pode ser a própria Rússia (com diversos casos de racismo). Punir o país europeu, sei lá, tirando da organização da Copa de 2018, acabaria com os racistas de lá ou apenas passaria a mensagem de “Eles podem até ser racistas. Mas, não para o mundo ver”. Sinceramente não acho que a questão deva ser encarada assim. 

Pode parecer paradoxo, mas, vejo algo positivo nos ataques racistas no futebol, que é o fato dele desnudar o que há de pior na humanidade. Talvez se esses casos não viessem à tona contra jogadores importantes como Ballotelli ou Yaya Toure ou times importantes como o Cruzeiro, seria ignorado. É como disse, talvez fosse jogado para debaixo do tapete. Um exemplo é o caso do jogador Adilson (XV de Piracicaba), que não teve 10% da repercussão do acontecido com Tinga. Fazendo um paralelo, seria como o caso da morte do Ayrton Senna. Precisou um dos grandes morrer para que fossem tomadas atitudes mais sérias sobre a segurança na F1. Será que se “apenas” o Roland Ratzenberger (que morreu em um acidente um dia antes do Senna), tivesse morrido as ações seriam as mesmas? Tenho minhas duvidas. 

Então, punir o Garcilaso ou qualquer outro time pela estupidez humana talvez não seja a melhor atitude. Creio que o racismo não deve ser “combatido no futebol”, não devemos lutar pelo “fim do racismo no futebol” e sim pelo fim do racismo de forma geral. O esporte não pode ser visto como algo “a parte” e sim como dentro (que de fato está) do contexto social. 

Sabe qual seria a maior resposta no caso de ontem? Se o racismo de alguns, não quero acreditar que todos os presentes no estádio são racistas, fosse encarado de frente pelas pessoas com o mínimo de respeito que lá estavam. Ou seja, que boa parte do público (e até atletas de ambos os times) ao invés de acompanhar de forma passiva fosse “para cima”, para o embate (não físico) de falar para os racistas: “Não somos racistas. Você não pertence a esse a meio”, ou como diria Chico Buarque “Cálice!”. Tem que apontar, responder, constranger o racista. O futebol, por ser algo que reúne muita gente de todas as classes, seria importante para isso, para, ao invés de jogar para debaixo do tapete. É bater de frente com os racistas. E só para constar, isso vale também para o machismo, homofobia, etc. Devemos inicialmente aceitar e principalmente encarar/combater a realidade (estúpida) humana.

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