Antes de entrar de fato no assunto proposto aqui no texto é interessante fazer uma pequena recapitulação de como o tema direito à liberdade está previsto na Constituição Federal Brasileira. O Artigo 5º indica que Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O artigo 1º proclama como fundamentos para um Estado Democrático de Direito, no inciso IV: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. E, por fim, o Artigo 4º, no inciso II aponta: prevalência dos direitos humanos.
A Constituição Federal proclamada em 1988 foi criada para assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos e é valida em todo território Nacional, incluindo também, claro, os estádios de futebol. Digo isso porque o ano de 2013 ficou marcado por muitos casos de homofobia envolvendo o esporte.
Em Pernambuco, por exemplo, no Clube Náutico Capibaribe, onde o torcedor do time agrediu o volante Gustavo Henrique, jogador do Timbu, que levou uma cadeirada nas costas apenas por estar vestido uma camisa cor de rosa. Outro caso, que gerou ainda mais repercussão foi a do atacante Emerson Sheik, jogador do Corinthians. Sheik foi vítima de ataques homofóbicos depois de postar uma foto em seu perfil oficial no instagram em que aparecia dando um selinho no amigo e empresário Isaac Azar. “Tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apoia sempre”, escreveu no post. No dia seguinte, cinco integrantes da Torcida Organizada Camisa 12 do Corinthians, foram ao CT do clube protestar contra a atitude de Sheik, e exibiram três faixas que diziam “Vai beijar a P.Q.P. Aqui é lugar de homem”, “Respeito é pra quem tem” e “Viado não”.
Com as discussões em jogo, torcedores de vários times formaram grupos para dar visibilidade à homoafetividade e também foram vítimas de preconceito. A Galo Queer, página na facebook criada para reunir amantes do Atlético-MG com postura anti-homofobia e anti-sexismo, levantou primeiro a bandeira nas redes sociais. Em seguida, torcedores de outros clubes também fundaram páginas semelhantes como a Palmeiras Livre, Cruzeiro Maria, QUEERlorado, EC Bahia Livre, Vitória Livre, Grêmio Queer, Gaivotas Fiéis e, em Pernambuco, a Timbu Queer. Mas essa bandeira não é novidade no futebol brasileiro. Em 1977, torcedores do Grêmio já haviam tentado formar uma torcida organizada gay, a Coligay, criada em plena ditadura militar. Nos anos 70 também surgiram as torcidas organizadas Flagay, que chegou até 40 mil participantes dentro e fora dos estádios, e a torcida cruzeirense Raposões Independentes.
Nos estádios de futebol torcedores e até jogadores não podem promover demonstrações de afeto homoafetivo, porque correm o risco de sofrer preconceito e até serem agredidos. Também ainda é muito comum em nossa sociedade heteronormativa e machista torcedores rivais que dizem que a outra torcida e os jogadores do outro time são “gays” com intenções negativas e de xingamento, quando ser chamado de gay não deveria ter uma conotação ruim ou vergonhosa, pois não faz diferença a sexualidade das pessoas. Quando as torcidas de futebol e/ou jogadores utilizam termos depreciativos como “bicha” e “viado”, têm o intuito de transformar a sexualidade alheia em xingamento, reforçando o pensamento de que ser gay é ruim, frouxo, medroso e incapaz. Significações que foram propagadas falsamente ao longo do tempo.
Por esses e outros motivos que a discussão sobre homofobia no futebol se torna inadiável pela liberdade de expressão de todos, pois sua sexualidade não faz diferença.
Links de textos sobre a temática
http://www.apublica.org/2013/11/tabu-das-arquibancadas/
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/04/06/por-que-dizer-que-alguem-e-gay-ou-lesbica-e-encarado-como-xingamento/

Nenhum comentário:
Postar um comentário