quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O que é que o futebol tem a ver com comunicação?




Certa vez estava em uma mesa de bar lá pelas bandas do Centro do Recife, quando, como quase sempre, a discussão sobre futebol entrou na roda. Nessas discussões sempre existem aqueles que defendem ferrenhamente os seus clubes, têm aqueles que são mais sensatos e conseguem discutir de maneira mais sóbria e têm também aqueles que fazem parte da campanha “Eu odeio Futebol”, que odeiam até quando essa discussão entra em campo.

Um desses amigos que fazem parte da campanha contra esse esporte começou a reclamar porque esse debate entrou na roda. Então tentei argumentar com ele que debater sobre a temática não se limitava só em discutir as situações dos clubes, os esquemas táticos, os gols da última rodada, se quem é melhor, Pelé? Ou Maradona? Ou se foi falta ou não naquele lance. Com o futebol podemos discutir preconceito racial e étnico, diversidade sexual, a situação política do país, a história de uma determinada sociedade, filosofia, sociologia, antropologia, dentre vários outros assuntos que podem ser discutidos por meio deste mote. - Entre esses assuntos, podemos discutir até o projeto de Lei de Mídia Democrática – falei para ele. – Pera aí, o que é que o futebol tem a ver com o Projeto de iniciativa popular da Lei de Mídia Democrática? – perguntou.


Então o foco da conversa passou a ser outro sem sair do assunto futebolístico. Para explicar para o meu amigo, adepto da campanha “Eu odeio futebol”, a relação desse esporte com o projeto da lei de mídia democrática, pedi mais uma cerveja e tive que lembra-lo o objetivo de construir essa regulação dos meios de comunicação:

- O projeto tem como objetivo ampliar a liberdade de expressão, para termos mais diversidade e pluralidade na televisão e no rádio. Entendendo a liberdade de expressão para todos e não apenas para os grupos que representam os interesses econômicos e sociais de uma elite dominante, certo? Algumas diretrizes importantes nesse sentido são apresentadas na nossa Constituição Federal Brasileira, mas não diz como alcançá-las, o que deveria ser realizado por lei. Mas, infelizmente, não temos iniciativa para regulamentar, nem do Congresso Nacional, nem do Governo. Então, para tentar mudar esse cenário, instituições da sociedade civil e do movimento social se organizaram para encaminhar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular das Comunicações para regulamentar o que diz a Constituição em relação às rádios e televisões brasileiras. Para que esse Projeto de Iniciativa Popular entre em debate no Congresso Nacional é preciso atingir a marca de 1 milhão e trezentas mil assinaturas. Todo mundo que quiser se informar melhor sobre o projeto é só entrar no site paraexpressaraliberdade.org.br.

- Eita, que a conversa tá ficando boa, vou até pedir outra cerveja. Mas e ai? O que é que tem haver futebol com esse projeto de lei? – perguntou o meu amigo.

- A gente sempre tá reclamando que aqui no nosso Estado passa pouco os jogos dos nossos times na TV e que, muitas vezes, somos obrigados a assistir jogos dos times do sudeste, não é? Se a gente for, por exemplo, aqui pertinho, em João Pessoa, essa reclamação por parte dos torcedores paraibanos é bem maior do que a nossa. Pois lá é que o bicho pega e esses jogos do sudeste são empurrados mesmo. Sem contar que, quando passam, se for durante a semana, começam super tarde por conta da determinação de uma emissora de televisão que detém os direitos de transmissão dos jogos.

E então, um dos tópicos do projeto de Lei da Mídia Democrática aborda sobre a efetivação do Artigo 221 da nossa Constituição, que assegura a regionalização da produção cultural, artística e jornalística. Esse mesmo artigo fala também que a produção e a programação de rádio e televisão deverão atender preferencialmente a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. Tudo bem, meu velho, não to querendo que esse percentual estabelecido por lei seja ocupado apenas pelo futebol ou por quaisquer outros esportes, mas é importante que essas práticas formais e não formais também sejam contempladas nos canais de rádio e televisão locais, não é? Ainda mais entendendo essas manifestações desportivas como uma forma de lazer e promoção social e educacional. Em meio a todo esse pragmatismo econômico, não seria massa que essa diversidade e pluralidade estivessem representadas na mídia também pelo esporte, não só pelos “esportes da mídia”, como o futebol, a fórmula 1 e agora o UFC, mas por todas as práticas esportivas? E assim, como é dever de todos os conteúdos do rádio e da TV, não seria importante que as transmissões de futebol não se limitem apenas aos números e gols da rodada, mas também promovesse a ampliação da liberdade de expressão e opinião, a cultura nacional, a diversidade regional, combatesse a discriminação e o preconceito, principalmente contra mulheres, homossexuais, negros e indígenas, e garantisse os direitos de quem assiste e não só de quem faz? Tudo isso pode ser regulamentado com o Projeto de Lei da Mídia Democrática – defendi na minha argumentação.

- Tudo bem, entendi, mas continuo sem gostar de futebol– disse o meu amigo aos risos.

E então, pedimos outra cerveja e o assunto da mesa continuou sendo regionalização da mídia, porém pela ótica da cultura, que também tem muito pano para manga.






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